O serralheiro que virou prefeito


Até eleger-se prefeito do Cabo de Santo Agostinho em 1989 vencendo um adversário muito popular que era José Alberto de Lima (Zequinha), aos 45 anos de idade, Eronides Soares percorreu difíceis caminhos. Arrimo de família, ele atuou como serralheiro mecânico na fábrica de pólvora de Pontezinha e em 1957, aos 23 anos, já negociava melhoria salarial para a categoria no Ministério do Trabalho, no Rio de Janeiro, então capital da República, como presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Pólvora.

Ele reivindicava o pagamento de insalubridade e periculosidade e tinha argumentos incontestáveis. Em pelo menos uma das diversas explosões ocorridas na fábrica, um operário desintegrou-se, desapareceu. O perigo era tanto que a empresa tinha dificuldades para recrutar mão-de-obra. A reivindicação foi aceita. Os salários receberam incremento de 30% e o jovem sindicalista ganhou projeção política. Dois anos depois, em 1959, ficou na primeira suplência de vereador, por apenas três votos.

Na eleição seguinte foi eleito vereador pelo Partido Trabalhista Rural (PTR), mas passou pouco tempo na Câmara. O Brasil mergulhara no regime ditatorial e um Inquérito Policial Militar (IPM) lhe tirou o mandato. “O que mais me incomodava no IPM era responder que eu não era comunista, como nunca fui, e eu temia passar por frouxo”, lembra com detalhes Eronides.

Um outro IPM que teria sido conduzido com as mesmas características lhe tirou o trabalho em um órgão federal. Foi demitido na primeira relação assinada pelo marechal-presidente Castelo Branco. Eronides então entrou com uma ação ordinária e ganhou a causa. Mas não voltou à Câmara agora por força do Ato Institucional número 5, o AI-5, que validava as cassações. “Desmascarei o IPM”, contenta-se.

Eronides Soares retorna à cena política 18 anos depois, em 1982, quando novamente se elege vereador. Foi nessa eleição que Eronides, amigo do ex-governador Miguel Arraes há mais de duas décadas, atuou de maneira decisiva para a primeira eleição de Elias Gomes à prefeitura do Cabo. Freqüentador do escritório de Arraes no Edifício Santo Albino, desde que ele voltara do exílio, em 1979, Soares declarou o voto em Elias ao ser perguntado em quem votaria para prefeito, se em Elias ou em Lúcio Monteiro. “Não conheço nem um e nem outro. Vou com você”, teria dito Arraes.

“Foi então que o Cabo de Santo Agostinho elegeu o seu primeiro prefeito de origem popular. Antes, tinha que ser comerciante, empresário ou ter o apoio da elite”, ressalta Eronides Soares, afirmando ter sido também a partir daí que a cidade experimentou um governo popular, com a organização de associações de moradores, entre outros instrumentos de participação da população, que ele apoiava enquanto presidente da Câmara Municipal.

A partir daí, o ex-serralheiro mecânico e ex-sindicalista credenciava-se para disputar a prefeitura da sua cidade. O maior estímulo foi dado por seu maior líder político, Miguel Arraes, já de volta ao Palácio de Campo das Princesas. “No Cabo, tenho um amigo, Eronides Soares, que é vereador e deve ser o candidato”, teria dito Arraes a Roberto Rego, que fora lhe apresentar o nome da secretária de Educação do Cabo, Mirtes Cordeiro, como possibilidade para a disputa pela prefeitura. Eronides Soares foi para a disputa com o apoio de Elias Gomes e o sucedeu.

Composição da Câmara de Vereadores na gestão de Eronides Soares (1989-1992)

Antenor Antonio da Silva
Clóvis Farias do Monte
Everaldo Cabral de Oliveira
Eurico Henrique da Silva (falecido)
Grinaldo Mesquita Wanderley (falecido)
Irandir Alberto da Silva (falecido)
Isaías José da Silva
José Bezerra dos Santos
José Cosme da Silva
José Otávio de Andrade Lins
José Paulo de Sena
José Severino Alexandrino Ferreira
Luiz Pereira de Lima
Manoel Luiz Bezerra Neto
Reginaldo Loreto da Silva (falecido)

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